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#diário 01 - POTÊNCIA, PODER E PUNIÇÃO - TATUÍ / SP - Cartografia

Na segunda-feira, dia 13 de maio de 2019 estivemos em um encontro no Núcleo Comunitário de Justiça Restaurativa "Paulo Setúbal" em Tatuí/SP, que desenvolve um trabalho voltado ao fortalecimento da comunidade, especialmente às mulheres vítimas de violência, e que encontram neste espaço, nas pessoas e nas práticas de JR, apoio e cuidado.


O centro do círculo foi composto por objetos significativos e utilizados nas atividades desenvolvidas pelo Núcleo e nós acrescentamos os livros do Espinosa, Foucault, Nietzsche, Guattari e Negri, “invocando suas presenças”.


Estiveram presentes aproximadamente 20 pessoas. Entre saídas e chegadas o grupo foi composto quase em sua totalidade por mulheres de idades diversas e por um homem, o juiz Marcelo Nalesso Salmaso, da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de Tatuí responsável pela implantação do projeto na cidade, uma das cinco em todo o Estado.


Apresentamos o trabalho desenvolvido pela Conatus contando um pouco das nossas trajetórias e a aliança entre a JR e a Filosofia Prática. Após breve explicação sobre o centro e a peça de fala iniciamos a rodada com a seguinte provocação: “conte uma história em que esteve envolvido e viu a justiça ser feita”.


Nós compartilhamos nossas histórias e descobrimos juntas a presença de uma satisfação ao constatar que aquele que provocou e/ou feriu recebeu uma certa “lição”, ou então que a “justiça divina” foi feita, independente do tema da religião. Com apenas esta pergunta norteadora, compreendemos que para além do limite do tempo, já havia aparecido o suficiente sobre punição e também sobre potência, especialmente às mulheres que participam do Núcleo e sentem-se pertencentes àquele espaço.


Após a partilha de histórias trouxemos as questões filosóficas em pauta e iniciamos com o diálogo entre a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa no livro Memórias da Emília de Monteiro Lobato, além de uma breve apresentação do filósofo holandês Bento de Espinosa e sua expulsão da comunidade judaica. As pessoas se envolveram com as provocações filosóficas, ficaram reflexivas e inquietas…”uma brisa”...rs. Foi possível perceber certos deslocamentos, sobretudo quando tratamos a questão do poder na Justiça Restaurativa e a partilha sobre a percepção de que temos certo prazer em nossas histórias quando vemos que o “outro se deu mal”. Terminamos com a reflexão de Potência como ética e Poder como moral, o que trouxe desconfortos.


Essa experiência nos possibilitou sentir que ao trazermos o conceito espinosista de potência, da vida que quer existir e que todo o poder está a serviço do impotente, as pessoas passam a se perguntar de alguma maneira onde está sua potência e como poder dar passagem a ela. Nossa experiência de investigação sobre os modos de construção do justo a partir dos encontros com pessoas e suas histórias, avança no sentido de contextualizarmos a Filosofia e sua produção, com o agora em que vivemos, Planeta Terra, Brasil, São Paulo, 2019. Ao trazermos a Filosofia como prática ou o pensar-ação para o centro da nossa pesquisa e proposta de encontro, restauramos o conceito filosófico de Justiça que hoje está ao domínio não só dos tribunais e dos cultos religiosos, mas na formação da nossa subjetividade que regula nossas relações mais cotidianas. Poder construir o justo é produzir novas subjetividades, novas justiças, novas relações.


Todo encontro tem em si uma potência!


Agradecemos o convite do Núcleo que nos recebeu de maneira carinhosa e entusiasmada e que hoje sem dúvida é um dos espaços mais importantes de justiça restaurativa comunitária no Estado de São Paulo. Que venham as próximas!


EticaConatus




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