Conatus
Do latim, conatus é esforço; impulso, tendência; cometimento. Este termo carrega na história de seu uso, conceitos ligados à Física e a Filosofia e é na obra de Bento de Espinosa onde encontramos nosso ecos: “Cada coisa esforça-se, tanto quanto está em si, por preservar em seu ser”. - Ética III, proposição 6.
Conatus tem a ver com o desejo, com o esforço de perseverar, de estarmos vivos e integrados à natureza. É uma força, que nos atravessa, apesar de nós, e tem como direção a preservação da vida. O desejo é a linha que costura a vida à natureza.
História
O trabalho da Conatus se dá na força dos encontros e é assim que essa história começa, na força do encontro de Fernanda e Heloisa que partilham visões, pensamentos e práticas interessadas pela vida e na afirmação das existências possíveis.
São muitos os fios nas tramas que as entrelaçam, mas talvez o tema liberdade tenha sido o fio condutor ao trabalho que agora realizam. Críticas à qualquer forma de opressão e dominação da vida, traçam caminhos cruzados com a multiplicidade do pensamento afirmativo da diferença, tentam escapar à servidão dos modelos, referências e identidades, produzem a vida.
Heloísa formou-se em Ciências Sociais, corajosa à livre discussão de ideias interessou-se desde logo por filosofia e política. Na arte encontrou pares, talvez por ser mais sagaz do que muitas teorias, produz respostas mais humanas e radicais… Dedicou-se a pesquisar o teatro de Artaud; envolve-se com cinema, pesquisa, produz, aprende, interessa-se pelo tema da justiça criminal sob uma perspectiva abolicionista; compõe músicas ao violão. Artista no encontro, produz alegria.
Fernanda desde cedo inclinou-se à tudo que escapa à norma: os loucos, os fracassados ou os frágeis sábios que conhecem a angústia da vida. Animada à filosofia escapou do olhar psicológico despido da indiferença com que se mascarou a Psicologia, através das lentes da ciência. Descobre-se a si enquanto reflete sobre subjetividade e dinâmicas sociais.
Em trajetórias paralelas as duas seguiram no mesmo sentido, encontraram a Justiça Restaurativa, buscando em suas abordagens e práticas, os modos de compreender e transformar o sofrimento produzido pelas injustiças fruto das fronteiras físicas, econômicas, políticas, sociais e culturais que nos impomos.
No centro de sua pesquisa tomam a filosofia de Bento de Espinosa, filósofo-artesão, que trabalhou e re-trabalhou pensamentos e sentimentos. Nise da Silveira em seu livro Cartas a Spinoza (1995) considera que seu ofício de polir lentes com as próprias mãos tenha tornado-o transparente, num profundo e sofrido trabalho interior; relação estreita entre pensamento e corpo (suas mãos).
Espinosa não reduz ao ser ou à experiência individual sua obra, mas o coloca como o começo fundamental da política humana. Elas, passeiam nos escritos do filósofo, sobretudo na maneira de pensar que organiza, e onde encontram estímulo para a investigação sobre os modos de construção do justo, passando por averiguar a natureza (ou ser) do direito dentro de uma filosofia da naturante, exigindo sua aplicação ao interesse maior do filosofar, o homem, e de maneira prática - filosofia prática - e porque não, cotidiana.
Idealizadoras
Fernanda Laender formou-se em Psicologia em 2005 e desde então dedica-se aos trabalhos com ênfase em subjetividade e dinâmicas sociais. Atuou como gestora no Programa Municipal Presença Social nas Ruas no município de São Paulo, em parceria com Organizações Sociais, acompanhando trabalho de Educadores Sociais junto à população de rua.
Foi gestora do NPJ - Núcleo de Proteção Jurídico, Apoio Psicológico e Social em parceria com o CREAS de Vila Mariana, em SP. Foi coordenadora do CRAVI (Centro de Referência e Apoio à Vítimas), nas unidades Itaquaquecetuba, Guarulhos e CIC Feitiço da Vila, programa da Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo de São Paulo, entre os anos de 2013 a 2015.
Trabalhou no CDHEP – Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo e há 14 anos foca suas ações no desenvolvimento de projetos de Justiça Restaurativa.
Entre os anos de 2014 à 2018 presidiu o Instituto Pilar, uma organização sem fins lucrativos que atua em prol da transformação social com desenvolvimento e execução de projetos voltados à Garantia dos Direitos Humanos e a superação das mais diversas formas de violência.
Atua como facilitadora em processos restaurativos e circulares formada por Kay Pranis, desenvolve formações e supervisões nesta área. Em 2016 fundou a Mora Mundo,espaço de difusão de ações socioculturais e educativa e compôs o DESABOTOAR Núcleo Comunitário de Justiça Restaurativa.
É professora convidada da EPM – Escola Paulista da Magistratura – Tribunal de Justiça de São Paulo em articulação com a Coordenadoria de Infância e Juventude.
Atualmente dedica-se à Psicologia Clínica em atendimentos on-line com enfoque esquizoanalítico.

Heloisa Bonfanti
Formou-se em Ciências Sociais pela PUC-SP em 2006 e cursou mestrado em Filosofia na Universidade Nova de Lisboa. Trabalhou durante 10 anos com projetos culturais, principalmente na área do audiovisual. Em 2012, integrou a equipe de direção e pesquisa do documentário Sem Pena, sobre o sistema de justiça criminal brasileiro. Entre 2013 e 2015 coordenou a equipe de Programas e Projetos do Sistema Municipal de Bibliotecas do Município de São Paulo e integrou as comissões de curadoria de artes cênicas, literatura e programação infantil do Circuito Municipal de Cultura de São Paulo.
Em 2017 fundou a Casa de Baixo, espaço de produção e experimentação para o pensamento e a arte. Em 2018 integrou a equipe de voluntárias do projeto #Maeslivres do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), na penitenciária de Pirajuí no interior de São Paulo e entre 2018 e 2019 fez parte da gestão de projetos de empreendedorismo no sistema prisional do Instituto Humanitas 360°, em unidades prisionais de Tremembé/SP.
Atualmente é professora de Filosofia do ensino médio na Fábrica Escola de Humanidades, da Associação Escola da Cidade em São Paulo.